Quem ajudava com a coleção eram amigos que viajavam para o exterior, pais de antigas namoradas que trabalhavam em bancos, pais de novas que, por boa vontade, doavam as moedas poupadas por décadas em cofrinhos de madeira em formato de coração por seus pais.
Às vezes Leandro exibia a coleção para alguns visitantes e não havia um que não se espantava: “Nossa, como você consegue não gastar essa nota de 100 reais?”. Apesar de ser normal que ele não gastasse (afinal de contas, aquilo era uma coleção) eu ficava toda orgulhosa, já que era a única que causava esse frisson entre as pessoas. Tudo bem que a maioria se interessava mais pelas moedas antigas e pomposas, mas e daí? Elas já não valem mais nada...
Eu nem me importava de ser a última nota do monte, já que a ordem era as cédulas internacionais, depois as nacionais que não valiam mais, depois as que valiam - da menor para a maior - e eu era a maior!
Até que um belo dia o pai de Leandro fez um acordo com o rapaz: “Filho, o carro é seu, mas a partir de agora é você quem coloca a gasolina.” Leandro ficou todo feliz, pois agora poderia ir para onde quisesse sem ter o problema de pedir para usar o meio de locomoção da família. Mas foi pego de surpresa quando percebeu que o combustível ia embora feito a água que corria da mangueira da vizinha.
E para complicar ainda mais, ele usava o carro para ir viajar todos os dias para uma cidade próxima na qual fazia mestrado.
O dinheiro que tinha não era muito, e gastava consideravelmente todo final de semana. Era a cerveja na sexta-feira, o jantar e o motel com a namorada no sábado, o cinema no domingo, sem contar as coisas inevitáveis de gastar – tinta para impressora, remédio de dor de cabeça, pedágios para as viagens diárias, presentes de aniversário, e, e, e... Nossa, quanta coisa!-
Poupar ele não conseguia, mas afinal ele ia poupar em quê? Pode até soar arrogante para quem não tem nada, mas tudo o que ele gastava era imprescindível para um jovem de 26 anos dentro dos padrões nos quais sempre viveu.
Ele esperava maior liberdade, poder sair nas cidades vizinhas, voltar a noite na hora que bem entendesse... Mas o que aconteceu foi o oposto, Leandro tinha que economizar na gasolina...A partir de então ele começou a procurar moedinhas nos cantos do sofá e também no troco do lanche dos finais de noite.
Eu o ouvia reclamar às vezes, mas ficava aliviada, já que ele jamais pensaria em me gastar – Poxa, eu era a nota mais importante no meio das demais... Era legal ter força de vontade e não gastar cem reais que estavam ali ... Parados de bobeira em uma carteira que cheirava a mofo!
Só que me enganei. E o que eu mais temia aconteceu. Não, não é só uma mulher de quarenta anos que tem medo de ser substituída por duas meninas de vinte! Eu temia ser por cinco!! E foi como o esperado... Ele me trocou por cinco de vinte! E ainda completou: “É mais fácil para gastar”
Aí fui pulando de mão em mão. Sabe como é! Ninguém ficava comigo por mais de uma semana. Foi horrível para mim, nenhum ser humano se apegou e quis me guardar para sempre!
Até que um dia (nem tão belo assim) fui parar na carteira de um velho avarento, e sabe o que ele fez? Colocou-me dentro de um banco, em um maldito cofre! O velho morria de medo de ser mandado embora do emprego e guardava qualquer dinheiro extra que viesse.
Você deve estar pensando qual o motivo da minha reclamação, já que agora eu consegui o que queria - ficar guardada para sempre -, mas não era esse o destino que eu sonhava para mim! Eu queria ser exibida, ser a única no meio de muitas, quiçá ser plastificada e pendurada no mural debaixo da tv do quarto do Leandro... Mas aqui no banco eu sou apenas mais uma, uma sardinha nadando junto com um cardume de tantas outras notas de cem!
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